sexta-feira, 30 de julho de 2010

Cinema: Ponyo – Uma Amizade que Veio do Mar

Conhecido por suas animações sofisticadas e tramas complexas, como o vencedor do Oscar A Viagem de Chihiro (2001) e O Castelo Animado (2004), o cineasta japonês Hayao Miyazaki apresenta um filme de simplicidade mágica, mas ao mesmo tempo profundo, em seu mais recente trabalho Ponyo – Uma Amizade que Veio do Mar.

A personagem central é Ponyo, uma peixinha dourada que entra em contato com o mundo dos humanos quando é encontrada por Sosuke, um menino que mora numa casa à beira-mar com sua mãe. Ele ajuda Ponyo, que está presa num pote na praia. Em retribuição, ele ganha uma lambida num pequeno corte em seu dedo, que acaba cicatrizando rapidamente.

Para Ponyo, esse é o início de uma longa jornada. Após provar o sangue humano, a peixinha ganha a habilidade de se transformar numa menina. Ao lado de Sosuke, ela descobre o modo de vida dos humanos, frequenta a escola com o amigo, conhece outras pessoas e se alimenta com comidas variadas.

São momentos mágicos na vida dos dois. Ponyo, uma princesa do mar, sempre viveu aprisionada por seu pai. A liberdade que experimenta agora é algo novo em sua vida. O que ela e seu amigo não sabem, porém, é que, transformando-se em humana, ela deu início a um desastre ecológico, liberando um verdadeiro tsunami que inundará a vila onde moram Sosuke, sua mãe e outras pessoas.

Peixes e outras criaturas marinhas começam a tomar conta do lugar quando a água invade as casas, depois de já cobrir ruas e outras regiões mais baixas. Dotada de poderes mágicos, Ponyo transforma um barquinho de brinquedo num barco de verdade, e, ao lado do amigo, sai em busca da mãe dele - que estava numa casa de repouso para idosos, onde ela trabalha.

Com quase 70 anos de idade, Miyazaki, que também assina o roteiro, mantém a imaginação ilimitada de uma criança,mostrando-se capaz de criar os personagens mais estranhos, sem romper o vínculo com a realidade. O estranhamento dos personagens e das situações, na verdade, podem ir além do que eles representam em si.

A amizade entre estranhos, a tolerância e o amor que rompe barreiras são os temas que permeiam Ponyo. Mas isso tudo vem numa embalagem tão criativa, colorida, charmosa e encantadora, que nunca torna este trabalho um “filme de mensagem”. Os personagens, ao contrário do que acontece em muitas animações, não são unidimensionais, mas providos de complexidade e nuances. O pai de Ponyo, por exemplo, que pode parecer maligno e perigoso num primeiro momento, mais tarde se revela preocupado com o equilíbrio da natureza, o que explica as suas ações.

Se as obras anteriores de Miyazaki procuravam um diálogo com um público mais adulto, Ponyo é seu filme que fala mais abertamente com crianças de qualquer idade – o que não exclui adultos. Não é um filme infantil, no sentido que apenas crianças possam gostar. Adultos e crianças terão muito com o que se divertir – embora não necessariamente com as mesmas coisas.

alysson oliveira*

* texto do amigo alysson oliveira, publicado originalmento no site cineweb, um endereço bem bacana para os amantes da sétima arte

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