De qualquer maneira, prestes a chegar ao seu final, a saga Harry Potter parece perder o fôlego. Pelo menos no cinema. O sétimo e penúltimo longa-metragem de uma das mais bem-sucedidas franquias da história sofre de um mal comum a outras sagas épicas contemporâneas: apoia-se no verbal, usa e abusa das palavras para sustentar a narrativa, desenvolve-se de maneira episódica e utiliza as imagens muito mais como uma rasa sedução espetacular que propriamente como o corpo da estrutura fílmica.
Percebe-se que o roteirista Steve Kloves (que roteirizou praticamente todos os episódios da série) deve ter tido um árduo trabalho em alinhavar todos os personagens necessários à continuidade da trama (que não são poucos), desenvolvê-los cinematograficamente e ainda tomar o cuidado de relembrar a função de cada um deles, para quem não se recorda precisamente dos filmes anteriores. Não é tarefa fácil. Não são poucos os momentos dessa primeira parte de Harry Potter e as Relíquias da Morte que passam a impressão do filme ter sido feito somente para quem já leu os livros.
Nesse penúltimo capítulo, as forças do Mal, lideradas por Valdemort, estão mais perto do que nunca. Agora fora dos muros de Hogwarts e sem a proteção do falecido Dumbledore, Harry, Ron e Hermione estão praticamente sozinhos na missão de encontrar e destruir as Horcruxes. Piorando a situação, a galera do Mal tomou posse também do Ministério da Magia, abrindo uma era de terror com vários elementos que remetem ao nazismo. Seria irônico dizer que, a exemplo de Hitler, McCarthy ou Bush - cada um na sua época - Valdemort implanta uma “caça às bruxas” no Ministério. Mas na verdade é uma caça aos não-bruxos, ou no linguajar da saga, aos Trouxas.
Coerente com a história que conta, trata-se de um dos filmes mais soturnos, densos e menos lúdicos de toda a série. Com tantos nomes a relembrar e tantas situações a desenvolver para pavimentar o caminho ao tão esperado epílogo, esse Harry Potter e as Relíquias da Morte traz problemas de ritmo e não raro derrapa em seus longos 146 minutos de projeção.
Porém, dois dos aspectos mais positivos da franquia permanecem com altíssima qualidade: a impecável direção de arte que nos faz embarcar em toda a fantasia do filme, por mais inacreditável que ela possa ser (há cenas em que quase se sente o cheiro dos ambientes, tamanho o profissionalismo do desenho de produção) e a química do trio central de atores, que não perdeu o frescor e o carisma mesmo depois de quase 10 anos do primeiro episódio. Para quem não se importar em ver hoje um filme que só vai terminar em 15 de julho de 2011, Harry Potter e as Relíquias da Morte é um caldeirão cheio.
celso sabadin*
* O multimídia - e querido amigo - Celso Sabadin é autor do livro autor do livro Vocês Ainda Não Ouviram Nada – A Barulhenta História do Cinema Mudo e jornalista especializado em crítica cinematográfica desde 1980. Atualmente, dirige o Planeta Tela (um espaço cultural que promove cursos, palestras e mostras de cinema) e é crítico de cinema da TV Gazeta e da rádio Bandeirantes.
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