sábado, 8 de janeiro de 2011

Censura: um atraso à cultura!

E mais uma vez estamos dando alguns passo em direção ao passado! Em pleno século 21, em que pressupõe-se um mundo moderno, avançado e com a informação chegando cada vez mais rápido em nossas casas, a censura continua, como na Idade Média ou em tempos de regime militar, assombrando feito alma penada os clássicos da literatura. Depois dos tupiniquins Caçadas de Pedrinho (de Monteiro Lobato) e Cem Melhores Contos Brasileiros do Século (de Machado de Assis, Rubem Fonseca, Clarice Lispector, Graciliano Ramos...) terem sido alvo dessa vergonhosa forma de "justificar um bem pelo mal", agora é a vez do americano Mark Twain (1835-1910) ter suas obras censuradas por termos julgados preconceituosos.

As Aventuras de Tom Sawyer e As Aventuras de Huckleberry Finn, livros que serão lançados em um único volume nos Estados Unidos em fevereiro, terão seus textos alterados pela editora NewSouth Book. A companhia quer suprimir os termos nigger e injun, considerados sinônimos de teor negativo para negro e índio. Segundo o jornal The Guardian, são mais de 200 inserções no texto que traz as peripécias de um menino ao longo do rio Mississippi em meados do século 19. Apesar de considerada uma das obras fundadoras da literatura americana, nas últimas décadas, Huckleberry Finn tem sido excluído dos currículos escolares devido a expressões consideradas racistas. Na nova versão, Jim, amigo do personagem principal, será tratado apenas como “escravo”. Igualmente, Injun Joe, assim chamado de modo íntimo e trivial pelos personagens de Twain, passará a ser “Indian Joe” na reedição de Tom Sawyer.

Autor da ideia da troca, Alan Gribben, professor de literatura da Universidade Auburn, de Montgomery, Alabama, disse que se sentia constrangido em ter que pronunciar essas palavras em sala de aula. De acordo com ele, seria uma forma de fazer com que esses livros voltem a circular nas escolas. “Podemos aplaudir a habilidade de Twain, como um grande escritor americano realista, para registrar a fala de uma região particular durante certa época”, declarou Gribben. “Mas isso não muda o fato de que insultos raciais abusivos, combinando diversas conotações de permanente inferioridade, causem repulsa aos leitores de hoje”, comentou ao jornal The Guardian.

A decisão, porém, parece esquecer de que Twain foi um crítico engajado contra o racismo, tendo apoiado financeiramente organizações de defesa dos direitos civis. Sarah Churchwell, professora da Universidade de East Anglia, diz que a substituição do termo "nigger" compromete o sentido do livro. "O ponto do livro é que Huckeberry Finn começa racista em uma sociedade racista, e deixa de ser racista e abandona aquela sociedade. Essas mudanças [na recente edição] significam que o livro deixará de mostrar o desenvolvimento moral do personagem."

Se Mark Twain escrevia "crioulo" para se referir a escravos em As Aventuras de Huckleberry Finn (1884) e hoje não se usa mais essa alcunha, trata-se de prova incontestável de evolução social. Ao censurar a palavra, tal professor e mesmo a editora desrespeitam 126 anos de luta por direitos humanos. Lobato, Cem Contos e agora Twain são apenas alguns exemplos dessa mesquinhez humana!

O New York Times relembrou por esses dias que, certa vez, o apresentador Ed Sullivan obrigou os Rolling Stones a cantarem em seu programa de TV americano "vamos passar um tempo juntos" em vez de "vamos passar uma noite juntos" (Let's Spend the Night Together, 1967). Em 2003, pôsteres da capa de Abbey Road (1969), dos Beatles, foram vendidos nos EUA sem o cigarro nas mãos de Paul McCartney, em uma ação feita sem o consentimento dos ingleses. Agora resta saber o que mais vem pela frente. Isso me faz lembrar as profecias sobre o fim do mundo em 2012! Sim, ele está próximo, não no sentido bíblico, mas na estupidez do homem!

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