sexta-feira, 3 de junho de 2011

Cinema: X-Men - Primeira Classe

Franquia que se preza deve explorar todas as possibilidades. Veja os filmes de terror por exemplo: depois de oito, dez ou doze contiunações, eles voltam à estaca zero e começam a contar a história toda outra vez, como se nada tivesse acontecido. Cinema de franquia é, acima de tudo, indústria, setor regido pela filosofia do lucro a qualquer preço. Não tem linha baby dos personagens Disney? Não tem a Turma da Mônica adolescente? Por que não? Se der lucro...

Outra fonte de inspiração das franquias é abordar as origens dos nossos já conhecidos personagens. Sucesso em, por exemplo, Star Trek, a estratégia volta com força total em X-Men: Primeira Classe. A ideia agora é contar como tudo começou, princialmente quando o brilhante estudante Charles Xavier (James MacAvoy, eficiente) conheceu o perturbado e vingativo Erik Lehnsherr (Michael Fassbender, um pouco canastra), muito antes deles serem os famosos Professor Xavier e Magneto.

Curiosa e inteligentemente, a maior parte da ação do novo filme se desenrola no início dos anos 60, não por acaso, a mesma época que Stan Lee e Jack Kirby estrearam seus personagens, publicados pela primeira vez em setembro de 1963. É o auge da Guerra Fria. Com seus mísseis à flor da pele, Estados Unidos e União Soviética podem a qualquer momento dar início a uma 3a. Guerra Mundial que teria efeitos devastadores.

Esta parte é real, e talvez o espectador médio tenha um pouco de dificuldade em compreendê-la integralmente, sem algum tipo de explicação histórica prévia. Neste cenário, o ex-ofical nazista Sebastian Shaw (Kevin Bacon), ele próprio um mutante, usa seus poderes para influenciar os líderes mundiais a dar o quanto antes o pontapé inicial nesse conflito que, segundo ele, liberaria ainda mais energia atômica e daria ainda mais poderes aos mutantes.

Esta parte é ficção. Para combater Sebastian, a CIA e o jovem estudante Charles Xavier, passam a arregimentar e treinar o maior número possível de mutantes dispostos a lutar pela manutenção da paz. Inevitavelmente, nesse quesito o filme assume uma posição maniqueísta, como eram, afinal, as posições da sociedade que naquele momento se dividiam entre russos e americanos.
Mas sob grande caos mundial escondem-se também pequenos dramas pessoais. Afinal, os mutantes são adolescentes inexperientes, como todos, inseguros em seus relacionamentos, insatisfeitos consigo mesmos, despreparados para seus futuros. E é neste ponto que o filme abandona o maniqueísmo inicial e cresce como dramaturgia.

Esse típico e natural desequlíbrio dos heróis adolescentes, criados para um público iguamente jovem, é um dos principais trunfos de Lee e Kirby que, obviamente, não poderia ser abandonado no filme. E não é. É ele que dá a liga necessária à trama, e que garante o sucesso da franquia, solidificando a identidade tela/plateia.
Por outro lado, quem não está nem aí para a dramaturgia e só entra no cinema para ver explosões também sairá da sessão recompensado.

O filme, principalmente em suas cenas finais, traz grandes batalhas, gigantescos momentos bélicos e uma profusão de efeitos digitais para blockbuster nenhum botar defeito. E não os esconde sob cenas noturnas, como muitos fazem, escancarando-os à luz do dia e mostrando sem rodeios o estágio atual dos efeitos visuais.
Assim, o filme acaba de mostrando eficiente sob diversos pontos de vista, tanto para quem busca o simples e puro entretenimento, tanto como para quem não se furta a mergulhar na brincadeira com um pouco mais de profundidade. E tudo isso respeitando a aura dos personagens originais.

Claro, fica tudo armado para mais uma milionária continuação. Afinal, franquia que se preza deve explorar todas as possibilidades. Só fiquei com uma dúvida: a tradução mais apropriada para este recomeço não seria “Primeira Aula” no lugar de “Primeira Classe”? Algum professor de inglês me ajuda?

celso sabadin*


* O multimídia - e querido amigo - Celso Sabadin é autor do livro autor do livro Vocês Ainda Não Ouviram Nada – A Barulhenta História do Cinema Mudo e jornalista especializado em crítica cinematográfica desde 1980. Atualmente, dirige o
Planeta Tela (um espaço cultural que promove cursos, palestras e mostras de cinema) e é crítico de cinema da TV Gazeta e da rádio Bandeirantes.

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