O personagem foi criado por Joe Simon e Jack Kirby em plena 2a. Guerra Mundial, tendo sido publicado pela primeira vez em março de 1941. Ou seja, a guerra já corria solta na Europa, mas os EUA ainda não haviam entrado no conflito. Por apenas 10 centavos de dólar, as bancas de jornal da época vendiam a primeira edição do comics Captain America, cuja capa mostrava o heroi esmurrando Hitler.
É com essa visão que o filme deve ser observado: sim, o personagem é um símbolo vivo de propaganda belicista, e o roteiro não só respeita como sublinha esta gênese. Tudo parte da inquietação de Steve Rogers (Chris Evans), um rapaz franzino, de saúde frágil, totalmente abduzido pela insistente propaganda de alistamento militar, durante a 2a. Guerra.
Num país em que se estourar pela Pátria é um patético sinal de heroísmo, Steve faz de tudo para ser aceito no Exército, sem sucesso. Até o momento em que o Dr. Erskine (Stanley Tucci, ótimo como sempre) um cientista alemão que deserdou para o lado americano, percebe que Steve tem potencial para participar de um experimento científico que deverá criar super soldados. E finalmente o “convoca”.
Percebe-se que o diretor Johnston aprendeu bastante com Steven Spielberg, na época em que comandou os efeitos especiais de Caçadores da Arca Perdida. Na grandiosidade das cenas, na ação, no humor, no estilo de dirigir e construir seus personagens, e até em alguns enquadramentos e movimentos de câmera, Capitão América tem muito de Caçadores. Repare inclusive como o personagem Zola (Toby Jones) é uma releitura de Bellock.
O filme mostra também uma notável capacidade de se auto-parodiar, e não poupa ironia para isso. É marcante, por exemplo, a maneira pela qual o novo herói, num primeiro momento, se transforma num ridículo joguete publicitário nas mãos das Forças Armadas, num apresentador de auditório vestido de pijama white/blue/red para o delírio de uma abobalhada plateia sem senso crítico sedenta por comprar bônus de guerra... ou qualquer coisa que o simpático Capitão vender. O pensamento é inevitável: exatamente qual platéia Johnson está ridicularizando...?
Juntem-se a isso alguns ingredientes indispensáveis para um boa aventura. Entre eles, ação e humor nas proporções exatas, efeitos especiais de primeira linha, uma reconstituição de época que beira à perfeição e um desenho de produção de cair o queixo, idealizando com muito talento elementos de ficção cientifica com sabor do anos 40. Nada disso, porém, teria tanto valor se Johnston não soubesse dar carisma e humanidade aos seus personagens. Ele deu.
Do protagonista aos coadjuvantes, da mocinha ao marcante vilão Caveira Vermelha (Hugo Weaving, de Priscilla, a Rainha do Deserto), todo o elenco está uniforme e convincente. Tommy Lee Jones dá um show particular. São presenças marcantes na tela que conquistam a empatia com o público em poucos minutos, não deixando que toda a dramaturgia se apóie apenas no (bom) desenvolvimento dramático do herói.
Mesmo que, no caso, Steve Rogers tenha se beneficiado de doses maciças de computação gráfica para viver o rapaz raquítico dos primeiros momentos do filme. O que destaca, inclusive, outro mérito de Capitão América: aqui, os efeitos estão a serviço da história, e não o contrário, como muitas vezes acontece. Ah, e sabe aquela ceninha final que sempre tem depois dos créditos? Desta vez não tem...
celso sabadin*
* O multimídia - e querido amigo - Celso Sabadin é autor do livro autor do livro Vocês Ainda Não Ouviram Nada – A Barulhenta História do Cinema Mudo e jornalista especializado em crítica cinematográfica desde 1980. Atualmente, dirige o Planeta Tela (um espaço cultural que promove cursos, palestras e mostras de cinema) e é crítico de cinema da TV Gazeta e da rádio Bandeirantes.
Como assim nao tem cena após os créditos? Tem o teaser dos Vingadores.
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