Aqui, a história é contada sob o ponto de vista de Rucio, o burrico de Sancho Pança. Ele, ao lado do “colega” Rocinante (o cavalo de Don Quixote) e seus respectivos donos, acabam se metendo em novas aventuras, depois que o sempre obsessivo Don Quixote resolve novamente ir à procura de sua misteriosa amada Dulcinéia. A ação se passa num momento em que Quixote já está praticamente aposentado e que – por causa de sua fama difundida nos livros de Cervantes – todos os cavaleiros querem ser igual a ele.
O grande problema – como quase sempre acontece nas novas animações - é o roteiro. Ou a falta dele. Com a crescente queda nos preços de hardwares e softwares, atualmente não é mais nenhum bicho-de-sete-cabeças realizar uma animação de boa qualidade técnica. E, neste aspecto, Doneky Xote é bastante satisfatório, com belos traços, personagens carismáticos e boa movimentação. Há até cenários inspirados no grande pintor espanhol Francisco de Goya.
Mas se a técnica anda cada vez mais apurada, não há dinheiro que compre um roteiro genial, coisa que ultimamente parece ser prerrogativa “exclusiva” da Pixar. Sonolenta, a trama do animado é confusa, sem emoção e, pior, não faz rir. Nem adultos nem crianças. Falta a grande idéia, a jogada genial, o inusitado. Diante de uma história tão desinteressante, fica até menor o fato do personagem principal ser quase uma cópia deslavada do Burro da DreamWorks, o amigo do Shrek. E de haver um leão que é quase igualzinho a Scar, o tio do Rei Leão, da Disney... Se pelo menos o roteiro de Donkey Xote “imitasse” um pouquinho também as belíssimas tramas da Pixar, tais pecados seriam melhor perdoados.
(celso sabadin*)
* o multimídia e querido amigo celso sabadin é autor do livro autor do livro vocês ainda não ouviram nada – a barulhenta história do cinema mudo e jornalista especializado em crítica cinematográfica desde 1980. atualmente, dirige o planeta tela (um espaço cultural que promove cursos, palestras e mostras de cinema) e é crítico de cinema da TV gazeta e da rádio bandeirantes.