sexta-feira, 2 de abril de 2010

Cinema: Como Treinar o Seu Dragão

Seria uma pequena maldade dizer que o novo desenho animado da DreamWorks é tão bom que parece da Pixar. Maldade, porém verdade. Como Treinar o Seu Dragão, a mais recente animação do estúdio que criou Shrek, traz de volta um padrão de qualidade que andava meio esquecido nos últimos trabalhos da DreamWorks. Não necessariamente pela trama - que retoma o velho tema do "peixe fora d´água" - mas, sim, pela direção, pela construção dos personagens e pela precisão do traço.

O "peixe fora d´água" em questão é Soluço, um jovem viking que mora numa aldeia onde seus conterrâneos são exímios caçadores de dragões. E nem poderia ser diferente, pois, neste caso, matar os monstros cuspidores de fogo é necessidade vital do lugar, já que os dragões são predadores das ovelhas que garantem o sustento da vila. Soluço, porém, não leva o mínimo jeito para a coisa e vai subverter os caminhos da tradição.

Sim, este tema básico - do protagonista que deseja ser diferentes dos demais, sofre preconceitos por isso e acaba se transformando em herói justamente porque ousou seguir por caminhos que não lhe estavam previamente determinados - tem sido a base de vários desenhos animados recentes, como Ratatouille, Vida de Inseto, Espanta Tubarões, Kung Fu Panda e muitos outros. Sem problemas. Vamos dizer que seja um tema... "clássico". O que diferencia Como Treinar seu Dragão é a forma por meio da qual a velha história é (re)contada.

Os diretores Dean DeBlois e Chris Sanders conseguem criar uma galeria de personagens repletos de humanidade, que equilibram heroísmo e bom humor em doses precisas, obtendo assim uma forte dose de empatia com o público. Principalmente o protagonista, Soluço. Os bons diálogos, o ritmo da aventura e a qualidade da animação também são pontos fortes do desenho. As cenas de lutas e batalhas são preciosas e cativantes, desembocando num final empolgante digno dos grandes clássicos da antiga Era Disney.

Tudo bem que a relação de Soluço com o dragão Banguela, escondido no meio da mata, lembra bastante o antigo seriado clássico Robô Gigante, mas no cinema também pouco se cria, pouco se perde, tudo se referencia. Vale a releitura para as novas gerações. E falando em dragão Bangela, qualquer semelhança dele com o personagem Stitch não é mera coincidência: os diretores DeBlois e Sanders são os mesmos de Lilo e Stitch.

(celso sabadin)

* O multimídia - e querido amigo - Celso Sabadin é autor do livro autor do livro Vocês Ainda Não Ouviram Nada – A Barulhenta História do Cinema Mudo e jornalista especializado em crítica cinematográfica desde 1980. Atualmente, dirige o Planeta Tela (um espaço cultural que promove cursos, palestras e mostras de cinema) e é crítico de cinema da TV Gazeta e da rádio Bandeirantes.

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