O "peixe fora d´água" em questão é Soluço, um jovem viking que mora numa aldeia onde seus conterrâneos são exímios caçadores de dragões. E nem poderia ser diferente, pois, neste caso, matar os monstros cuspidores de fogo é necessidade vital do lugar, já que os dragões são predadores das ovelhas que garantem o sustento da vila. Soluço, porém, não leva o mínimo jeito para a coisa e vai subverter os caminhos da tradição.
Sim, este tema básico - do protagonista que deseja ser diferentes dos demais, sofre preconceitos por isso e acaba se transformando em herói justamente porque ousou seguir por caminhos que não lhe estavam previamente determinados - tem sido a base de vários desenhos animados recentes, como Ratatouille, Vida de Inseto, Espanta Tubarões, Kung Fu Panda e muitos outros. Sem problemas. Vamos dizer que seja um tema... "clássico". O que diferencia Como Treinar seu Dragão é a forma por meio da qual a velha história é (re)contada.
Os diretores Dean DeBlois e Chris Sanders conseguem criar uma galeria de personagens repletos de humanidade, que equilibram heroísmo e bom humor em doses precisas, obtendo assim uma forte dose de empatia com o público. Principalmente o protagonista, Soluço. Os bons diálogos, o ritmo da aventura e a qualidade da animação também são pontos fortes do desenho. As cenas de lutas e batalhas são preciosas e cativantes, desembocando num final empolgante digno dos grandes clássicos da antiga Era Disney.
Tudo bem que a relação de Soluço com o dragão Banguela, escondido no meio da mata, lembra bastante o antigo seriado clássico Robô Gigante, mas no cinema também pouco se cria, pouco se perde, tudo se referencia. Vale a releitura para as novas gerações. E falando em dragão Bangela, qualquer semelhança dele com o personagem Stitch não é mera coincidência: os diretores DeBlois e Sanders são os mesmos de Lilo e Stitch.
(celso sabadin)
* O multimídia - e querido amigo - Celso Sabadin é autor do livro autor do livro Vocês Ainda Não Ouviram Nada – A Barulhenta História do Cinema Mudo e jornalista especializado em crítica cinematográfica desde 1980. Atualmente, dirige o Planeta Tela (um espaço cultural que promove cursos, palestras e mostras de cinema) e é crítico de cinema da TV Gazeta e da rádio Bandeirantes.
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