Cuca é um menino que vive num mundo distante, numa pequena aldeia no interior de seu mítico país. Certo dia, ele vê seu pai partir em busca de trabalho, embarcando num trem rumo à desconhecida capital.
As semanas que se seguem são de angústia e lembranças confusas. Até que, numa determinada noite, uma lufada de vento arromba a janela do quarto e carrega o menino para um lugar distante e mágico.
Essa é a premissa de Cuca no Jardim, novo longa de animação do diretor e animador Alê Abreu (o mesmo de Garoto Cósmico). Produzido por Filme de Papel, o animado ainda está em fase de produção, mas promete bastante!
Cuca no Jardim tem previsão de estreia nos cinemas nacionais em 2013. Confira abaixo uma entrevista com o diretor cedida pelo pessoal do Planeta Tela e mais informações no site oficial do filme.
Como será seu novo longa de animação, Cuca no Jardim?
Cuca no Jardim conta a história de um menino de 5 anos que vive com seus pais num pequeno vilarejo. Certo dia, ele vê seu pai embarcar num trem rumo à cidade, mas o tempo passa sem que ele volte para casa. Angustiado pela espera, Cuca parte em busca de seu pai numa jornada de surpreendentes revelações sobre o mundo à sua volta. De certa forma, o desenho será um mergulho no território das percepções de mundo de um menino especial, durante sua jornada em busca do pai e da união de sua família, no descuidado jardim de sua casa. O espaço percorrido pelo personagem é um campo de lembranças e de sensações da infância que influenciaram diretamente o estilo gráfico da animação. Cuca movimenta-se numa geografia etérea e fragmentada, sem tempo nem espaço precisos. Uma espécie de Eldorado de Terra em Transe.
Como surgiu a idéia?
Cuca surgiu em 2006, durante o período de finalização de Garoto Cósmico e, simultaneamente, ao desenvolvimento de projeto do anima-doc Canto Latino. Em 2006, um edital do PAC nos direcionou a trabalhar no desenvolvimento do projeto de Canto Latino, um anima-doc (mistura de animação com documentário) abordando diversos períodos da conturbada história do continente sob a ótica das músicas de protesto dos anos 70. O projeto, iniciado no período final da produção de Garoto Cósmico, me levou a uma apaixonada pesquisa sobre o tema. Além dos livros e das músicas, mochila nas costas e muitos cadernos de anotações. Entre anotações e pensamentos de Canto Latino, surgiu a figura de um menino, que na mesma hora chamei de Cuca. O desenho se destacava dos demais pela simplificação extrema dos traços e parecia acenar para mim. Mais do que o próprio personagem, o desejo daquela idéia de desenho, algo entre o rigor da geometria e a liberdade do gesto, foi crescendo e sobrepondo-se ao projeto de “Canto Latino”. Dessa forma, Cuca ganhava um contexto, uma situação já bem construída como pano de fundo, seu Jardim. Restava encontrar naquele universo a sua história.
E como nasceu esta história, o roteiro?
Escrevi um primeiro argumento muito livremente, costurando idéias soltas: Cuca levado pelo vento, o encontro do menino com um velho, a partida do pai, mistério numa fábrica abandonada etc. Mas sempre incorporadas ao pano de fundo, que era a situação apresentada em Canto Latino, e buscando encontrar ali uma linha que os unisse numa história. Quanto ao roteiro, não houve bem essa etapa, pelo menos da forma que estamos acostumados a entendê-la. Com o argumento em mãos, fui construindo o filme diretamente na ilha de edição, já em forma de audiovisual, criando um novo animatic. Esse processo levou pouco mais de um ano de trabalho. Fazia anotações, esboços num caderno de rascunho e, depois, transformava essas idéias em pequenos trechos de história, que eram incorporados ao bloco do filme. Ao mesmo tempo, experimentava sons e trechos de músicas como referência e já brincava com a própria montagem. Penso que talvez por isso o filme tenha se resolvido praticamente sem diálogos.
Podemos esperar algo bem diferente de Garoto Cósmico?
Veja, todo o processo do filme se iniciou com as primeiras sugestões do argumento, mas principalmente com os primeiros esboços do personagem Cuca, já direcionando meu desenho pós-Garoto Cósmico para um outro tipo de estilização mais lírica, e caminhando em direção a abstração geométrica. Os personagens em Cuca no Jardim são seres inventados, geométricos, de um mundo paralelo e imaginário. Busquei um desenho solto e espontâneo, como o gesto de uma criança, procurando recuperar aquele prazer despretensioso, quase primitivo, que se tem ao desenhar na infância, onde mora o puro amor ao desenho, livre de cânones, dogmas, ou mesmo do auto-julgamento.
Esta alma infantil está bastante presente nas primeiras imagens do filme que estão sendo divulgadas.
Com certeza é bem visível. Mas não é uma questão de estilo e, sim, da maneira de se entregar ao trabalho. Não tentei imitar os desenhos das crianças mas sim o jeito despretensioso e livre de faze-los. Em Cuca no Jardim, os desenhos da animação são feitos diretamente com lápis coloridos, giz de cera, pastel e canetinhas, não havendo dessa forma separação entre desenho e pintura na hora da produção. Na parte inicial do filme, usaremos unicamente esse tratamento de lápis e papel. Já na segunda parte um novo componente será agregado à sua linguagem. A partir do momento em que Cuca se aproxima da cidade e da “civilização”, usaremos colagens de recortes de jornais e revistas formando objetos, roupas, construções ou até mesmo detalhes engraçados dos personagens (um nariz, seios ou coxas de recorte fotográfico) etc. Os barracos da favela, por exemplo, são construídos com recortes de anúncios publicitários e revistas de fofoca.
Como você vê, atualmente, os longas de animação que chegam ao nosso mercado?
Nos últimos anos, temos visto uma padronização de estilo e técnica dos longas de animações, principalmente dramatúrgica. Por uma tentativa de adequação ao que se imagina ser a expectativa do público, os animados parecem todos iguais, com raras exceções. Com o desenvolvimento da computação gráfica e a nova linguagem do 3D, a animação chegou num tal grau de excelência técnica e apuro visual que mesmo caricatural, praticamente não a distinguimos mais de um filme de atores. Os personagens obedecem realisticamente às forças da natureza, em enquadramentos e ângulos de câmera que procuram imitar os filmes ao vivo e circulam num universo realista com pouquíssimo espaço para o novo. Nesse caminho, em alguns anos, não será mais possível distinguir um filme de animação do mais tradicional filme live-action. Já não há mais espaço para o pensamento artístico, para a pesquisa estética, e elementos importantes que a animação alcançava a partir de suas linguagens que são portas para um mundo lírico e abstrato. O fato de produzirmos Cuca de maneira muito independente, nos possibilita uma importante liberdade neste sentido.
terça-feira, 19 de julho de 2011
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