Foi após o nascimento das duas filhas que Lisa Guernsey resolveu estudar os efeitos da televisão em crianças menores de 5 anos. Juntou as informações ao dia-a-dia em casa e lançou Into the Minds of Babes – How Screen Time Affects Children From Birth to Age Five (algo como Por Dentro das Mentes dos Bebês – Como a TV Afeta Crianças de 0 a 5 anos, editado pela Basic Books e ainda inédito no Brasil).
Como e a partir de que idade as crianças aprendem com a TV?
A criança aprende por meio da observação. Existem algumas diferenças interessantes. Por exemplo, pesquisas mostram que crianças de 1 a 3 anos e no início da pré-escola aprendem mais com pessoas. Quando vêem exatamente o mesmo conteúdo em vídeo, são menos propensas a imitar ou utilizar as informações transmitidas. Esse fenômeno foi apelidado de “vídeo déficit” e está provado que ele desaparece quando o pequeno assiste ao programa diversas vezes. Um estudo da Universidade de Georgetown (EUA) mostrou que o “vídeo déficit” sumiu após seis repetições do show ou quando a criança se envolve com o personagem da tela como se ele fosse real. Não há muitas provas de aprendizagem em crianças de até 2 anos. Mas vale lembrar que elas aprendem quando o pai aponta, repete e fala coisas que são vistas na televisão, da mesma forma que o faz com livros.
O que é mais importante: o conteúdo ou quanto tempo ela assiste?
Eu gostaria de salientar os três Cs: Conteúdo, Contexto e sua Criança. Não é uma questão de considerar tempo ou conteúdo, e sim os dois juntos, assim como prestar atenção às necessidades do filho (como cochilos, recreio, exposição a novas palavras etc). Se ele assiste a mais de uma hora de TV, dentro do contexto de vida dele provavelmente tem menos tempo para conviver com amigos, comer, dormir, explorar, ler, ouvir a mãe ou o pai...
Como escolher um bom programa?
Tenho alguns critérios: 1. Histórias diretas, levando a criança do ponto A ao B sem flashbacks ou tramas paralelas. Sem uma narrativa simples e linear, as crianças de 2 e 3 anos não conseguem acompanhar o episódio. 2. Procure programas em que o personagem ou narrador faz uma pergunta e espera alguns segundos pela resposta. Pesquisas mostraram que, a partir dos 2 anos, as crianças envolvidas com um personagem são mais capazes de usar e lembrar o que aprenderam com ele. 3. Se um personagem está falando sobre uma pá, ela deve ser visível para o telespectador e estar salientada pelo personagem. Caso contrário, a palavra pode parecer abstrata e incompreensível. Quando palavras e ações são bem marcadas, o ritmo do programa é mais lento. 4. Crianças precisam ouvir a mesma coisa diversas vezes. O mesmo acontece com a televisão. Procure programas que reprisam o que aconteceu, repita o vocabulário e estabeleça uma rotina (a mesma cena de abertura, usando a mesma música de transição para um novo local etc.)
E a TV pode ficar ligada, ainda que a criança não a esteja assistindo?
Não. Uma pesquisa da Universidade de Massachusetts (EUA) descobriu que, mesmo que a criança não esteja assistindo à TV, ela é afetada pelo aparelho. Quando o televisor está ligado, o pequeno brinca com seus brinquedos por menos tempo e não foca a atenção na brincadeira. Além disso, a interação com os pais é diferente. Você presta atenção na criança, mas fica menos envolvido com ela. Por fim, alguns estudos mostram que crianças são menos capazes de aprender a própria língua quando há muito ruído, pois ele dificulta a capacidade delas para isolar certas palavras que a mãe e o pai dizem.
Tudo bem deixar a TV ligada para ter uns, digamos, “minutos de paz”?
Eu relaciono completamente uma coisa à outra, ou seja, os meus minutos de paz ao televisor. Em moderação (30 minutos por dia) há pouca ou nenhuma evidência de que a TV faz mal. E, depois dos 2 anos, há provas de que um programa bem concebido, como As Pistas de Blue, pode ser bastante útil. Depois de investigar o assunto para o meu livro, fiquei aliviada por dar às minhas filhas (que agora estão com 3 e 5 anos) um pouco de TV (de 30 a 60 minutos diários pela manhã). Elas assistiam ao As Pistas de Blue e Dora, a Aventureira enquanto eu fazia uma ligação, lia o jornal, limpava a casa ou lavava a louça. Durante uma hora, aprendiam algo novo enquanto eu terminava minhas tarefas para, depois, passar o tempo ao lado delas. Sem dúvidas, o bom uso da TV me ajudou a ser uma mãe melhor.
* Texto de Cristiane Rogerio e Tamara Foresti, publicado originalmente no site da revista Crescer
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