Dependendo dos olhos de quem vê, esta segunda aventura baseada nos livros de C.S. Lewis poderá oferecer mais atrativos, mais subleituras, do que simplesmente uma enxurrada de efeitos especiais de pouco conteúdo, como vimos na trilogia O Senhor do Anéis. Dirigido pelo neo-zelandês Andrew Adamson (o mesmo dos dois primeiros Shreks), Príncipe Caspian chegou às telas três anos após O Leão, A Feiticeira e o Guarda-Roupa. Isso falando em tempo cinematográfico.
Para os irmãos Pedro, Lúcia, Edmundo e Susana, passou-se pouco poucos mais que dias entre uma aventura e outra. Já para o Reino de Nárnia, foram séculos. E séculos dos mais difíceis, em que a dominação tirana do povo telmarino baniu os animais falantes e as criaturas mitológicas do Reino. Ou seja, o poder centralizador do Rei Miraz (o ótimo italiano Sergio Castellitto) eliminou a Magia. Trata-se da imortal história do Autoritarismo contra a Liberdade e a Fantasia, também enfocada de forma inesquecível em outro sucesso juvenil: A História sem Fim.
Enquanto isso, no castelo dos telmarinos, o Rei Miraz finalmente vê nascer o seu tão esperado filho homem, razão mais do que suficiente para ele mandar matar seu sobrinho Caspian (Ben Barnes), até então o legítimo herdeiro do trono. Mesmo porque Miraz, anos antes, já havia mandado matar seu próprio irmão, pai de Caspian. Se ele leu Hamlet? Provavelmente. Não é preciso se esforçar muito para perceber que os quatro irmãos, Caspian e os seres encantados de Nárnia vão unir suas forças para combater Miraz. Não sem dispensar a ajuda do imbatível leão Aslam, personagem-chave das Crônicas, que teria sido criado pelo católico C.S. Lewis para representar o próprio Jesus Cristo.
Claro, afinal quem acompanha a saga sabe que Aslam morre, ressuscita, e se torna uma espécie de espírito poderosíssimo que só quem tem Fé consegue enxergar. Se ele leu a Bíblia? Provavelmente. Que tudo se encaminha para o mega confronto final, isso é mais do que previsível. O que chama a atenção é a grandiosidade deste embate. Efeitos especiais beirando a perfeição são utilizados com criatividade e generosidade. Tudo é grandioso, épico, portentoso. Há belíssimas locações na nova Zelândia, Eslovênia, República Checa e Polônia.
A direção de arte é preciosa, do castelo de Miraz às armaduras de guerra. Da concepção dos armamentos ao mais simples objetos de cena. São praticamente duas horas e meia de encher os olhos, com boas interpretações, elenco carismático e um roteiro que – se não é genial – tem tudo para agradecer aos “adolescentes” de todas as idades.
(celso sabadin)
* o multimídia - e querido amigo - celso sabadin é autor do livro autor do livro vocês ainda não ouviram nada – a barulhenta história do cinema mudo e jornalista especializado em crítica cinematográfica desde 1980. Atualmente, dirige o planeta tela (um espaço cultural que promove cursos, palestras e mostras de cinema) e é crítico de cinema da TV gazeta e da rádio bandeirantes.
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