Em Bolt – Supercão, as vozes originais dos heróis eram de John Travolta e Miley Cyrus. Em Coraline, Dakota Fanning emprestou a voz à menina rebelde. As duas recentes animações e também o filme de terror Dia dos Namorados Macabro puderam ser assistidos em uma das 34 salas de cinema do país que disponibilizam para o público a tecnologia 3D. Mas quem esperava ouvir as versões originais dos filmes nessas salas se decepcionou: todas tinham cópias dubladas.
A falta de filmes 3D em suas versões originais não está relacionada necessariamente a uma preferência do público, mas a questões técnicas que impedem, por enquanto, a legendagem dos filmes. Segundo distribuidores e exibidores ouvidos pelo portal UOL Cinema, a maior barreira para o uso de legendas é o risco de comprometer a "imersão" do público, um dos grandes trunfos do uso de 3D nos cinemas.
Consultada por e-mail, a empresa RealD, responsável por uma das tecnologias de projeção 3D mais comuns nos cinemas, diz que muitos testes já foram feitos e que a legendagem de filmes 3D é, sim, possível, mas requer tratamento especial. Para um resultado de qualidade, ela teria que fazer parte da pós-produção do filme, utilizando a mesma tecnologia, o que demandaria tempo e custaria caríssimo, segundo a empresa, sem precisar valores.
Por enquanto, as legendas em filmes 3D já foram propostas de duas maneiras, segundo o gerente de tecnologia do Cinemark Brasil, Luciano Silva. Em uma delas, é exibida uma legenda tridimensional – que flutua na tela assim como um machado que voa na direção do público. “Mas focar a todo o momento em um elemento que faz parte do 3D causou náuseas no público em testes feitos no exterior”, diz Silva. O mesmo não acontece nos filmes convencionais, já que as imagens do filme e das legendas estão no mesmo plano.
Outra opção já testada é projetar as legendas convencionais sobre uma tarja preta na parte inferior ou superior da tela. Silva explica que essa alternativa, usada por exemplo em trailers de Beowulf, resolve em parte a questão do mal estar, mas acaba com a sensação de "imersão".“Assistir a um filme em 3D com legendas seria como dirigir em uma estrada olhando sempre para placa do caminhão na sua frente”, compara Adhemar Oliveira, sócio das redes Espaço Unibanco e Unibanco Arteplex. “O filme 3D é feito para dar uma inserção virtual em uma realidade tridimensional, e as legendas ainda não combinam com esse conceito”, diz.
Jorge Peregrino, presidente do Sindicato dos Distribuidores do Rio de Janeiro, diz que não é possível prever quando uma solução será encontrada, mas que já existe um grupo de engenheiros dos estúdios tentando achar uma saída. “Uma boa solução será criada, é apenas uma questão de tempo”, diz Peregrino, que também é vice-presidente da Paramount da America Latina. “Ainda não dá para arriscar pegar um produto que custa caríssimo para fazer, que é um filme 3D, e acrescentar algo que compromete qualidade final”, diz.
Preconceito contra a dublagem
Se a dublagem dos filmes desanima quem está acostumado com as legendas, ela pode agradar a uma considerável parcela dos frequentadores de cinema. No fim do ano passado, uma pesquisa encomendada pelo Sindicato dos Distribuidores do Rio de Janeiro mostrou que 56% dos frequentadores de cinemas preferiam filmes dublados, contra os 37% que preferiam as legendas. “Há um preconceito no Brasil em relação à dublagem, e parece mais uma avaliação imposta por uma determinada camada. Hoje, nos grandes lançamentos com cópias dubladas e legendadas, tem crescido assustadoramente o volume de público nas cópias dubladas”, diz Adhemar Oliveira.
Até o final do ano, cerca de dez novos filmes devem ser exibidos nas salas 3D do país, que devem aumentar em número apesar dos reflexos da crise econômica, segundo Peregrino. Entre os lançamentos, estão animações como Monstros vs. Aliens e Madagascar 3 e também o filme teen Jonas Brothers 3D - todos têm como principal público as crianças e adolescentes. Mas as produções live-action (com atores reais) em 3D também vão se tornar cada vez mais comuns. Um dos lançamentos mais esperados de 2009 é o filme de ficção Avatar, que será feito em 3D e marcará o retorno de James Cameron à direção de um longa de ficção 12 anos depois de Titanic. Aí, o público que é fã das legendas pode começar a se incomodar.
* texto publicado originalmente no site uol cinema
Um comentário:
Preconceito??Não meu caro,é uma questão de qualidade.Filmes dublados estragam o filme todo,além de se ter no Brasil,meia duzia de dubladores e muito ruins.
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