Só que os fãs do mangá e do animê (versão em animação) correm um grande risco de se decepcionar na hora de ver a história do herói Goku na tela. É claro que esperar um filme de duas horas que compreendesse todo o universo da saga é impossível: o mangá tem 519 capítulos (que variam em quantidade de volumes dependendo da edição), e o animê chega a 444 episódios, juntando a primeira fase com a fase Z. Ainda assim, o diretor James Wong foi longe na hora de transpor a história de Goku para as telas. Longe de ser o garoto com rabo de macaco inspirado no personagem Sun Wokong da lenda chinesa da Jornada ao Oeste, o Goku (Justin Chatwin) norte-americano é um garoto prestes a fazer 18 anos, que vive com o avô Gohan, sofre na mão dos colegas mauricinhos na escola e se apaixona pela colega Chi-Chi (Jamie Chung).
Power Rangers
O artifício de aproximar histórias fantásticas de inspiração oriental não é novo – a franquia Power Rangers já fazia isso, adaptando os “tokusatsu” (seriados em live action cheios de efeitos especiais em que guerreiros de roupa colante lutam contra monstros) para o ambiente colegial dos EUA. Apesar de Goku já estar mais velho, os acontecimentos do filme são mais próximos da primeira fase do mangá, quando ele se une à Bulma (Emmy Rossum) para tentar juntar as sete esferas do dragão e conseguir realizar um desejo. Mas eles vão ter de enfrentar o alienígena recém-desperto Piccolo (James Masters), que matou Gohan e também quer reunir os artefatos para poder reinar em toda a Terra. Para isso, vão contar com a ajuda de Mestre Kame (Chow Yun-Fat), que vai treinar Goku para participar de um torneio onde esperam encontrar as esferas e deter o fim do mundo.
Alguns dos elementos que fizeram a fama da obra de Toriyama, como o humor quase pastelão e os lutas dramáticas, são transpostas literalmente para o filme – mas o problema é que elas não funcionam tão bem com atores de carne e osso. Sem ser tão ferino quanto o original (o Mestre Kame das telas é bem menos tarado que sua contraparte desenhada, por exemplo), o humor perde boa parte da graça. Mesmo usando conceitos derivados diretamente do mangá, como o famoso golpe Kamehameha, as lutas perdem o tom épico original e caem no dramalhão.
O Dragonball de Wong acaba caindo na fórmula de filme sem graça cujo destino são as reprises dubladas na TV – claro, depois de faturar em cima de um dos quadrinhos mais vendidos do mundo. É chato constatar que o diretor, junto com o roteirista Ben Ramsey, desperdiçou a oportunidade de criar um Homem-Aranha oriental. Na dúvida, melhor ficar com o desenho, mais divertido e nada bobo.
Em cartaz: dia 09, quinta, nos cinemas nacionais
Classifcação: 12 anos
* texto de amauri stamboroski jr., publicado originalmente no portal g1
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