terça-feira, 8 de julho de 2008

Criança & TV

A pedidos de alguns pais e fãs de desenhos, a partir de hoje teremos uma nova seção no blog, que batizei de Criança & TV. A intenção é colocar em pauta, todas as quartas, a antiga discussão sobre o relacionamento entre a garotada e a TV, bem como os desenhos que são mais adequados para cada faixa etária. Como primeiro texto, escolhi uma entrevista feita por Cristiane Rogerio com a especialista Bia Rosemberg (publicada no site da revista Crescer. Aliás, para os pais à procura de boas dicas na hora de educar seus pimpolhos, o endereço é parada obrigatória!).

É preciso aprender a assistir à TV

Assista a alguns sucessos da TV Cultura para crianças e vá até o final dos créditos: Bia Rosenberg está lá como responsável por programas premiados, como Castelo Rá-Tim-Bum e Cocoricó, e pela atual versão de Vila Sésamo. Após 20 anos dirigindo e escrevendo atrações para o público infanto-juvenil, Bia reuniu suas idéias, pesquisas e dicas em um livro para ajudar os pais a parar de lamentar o excesso de televisão na vida dos filhos e partir para o trabalho. Em A TV Que Seu Filho Vê – Como Usar a Televisão no Desenvolvimento da Criança (Ed. Panda Books) há explicações sobre o mundo da televisão (o que está por trás dela), exercícios para descobrir que papel ela tem na casa de cada um de nós e como ajudar a criança a entender, de fato, a programação a que está exposta, inclusive a publicidade. A idéia principal é desenvolver a capacidade crítica de adultos e crianças diante da TV e oferecer munição para uma reeducação.

Hoje em dia, a polêmica está no uso do computador. Por que ainda precisamos discutir a televisão?
Porque ela é ainda muito presente na vida das crianças, que assistem a um número impressionante de horas por dia.

O que nós vemos com as crianças é um reflexo da nossa má educação com a TV?
Quando você começa a ver, tem uma facilidade tão grande, uma disponibilidade, te exige tão pouco que você acaba vendo simplesmente. É muito fácil, e as pessoas tendem a ter um comportamento mais passivo.


E qual é o principal papel dos pais nisso? Filtrar?
É acompanhar. Escolher junto com os filhos aquilo que eles (os filhos) querem ver. Não escolher pelos filhos, escolher junto com eles, discutir o que estão vendo. Então, o primeiro papel dos pais é se educar em relação à televisão, para aí poder educar os filhos. Assim como a gente educa para a literatura, pega um livro e sugere ‘ah, quando eu era pequena, eu li tal coisa, você não quer ler?’. Ou olha um novo, olha junto, discute. Tem que perguntar: ‘por que você acha esse programa bom, o que você gosta de ver?’.


E quando os pais não estão em casa?
Não é uma situação muito fácil, porque precisa ter um certo esforço dos pais para tentar ver o que o filho está assistindo pelo me nos uma vez, para ter alguma idéia do que se trata. Ou então pedir para o filho contar, que também é uma forma de você ter uma atitude mais consciente.


E passar isso para o adulto que fica com os filhos na ausência dos pais, como, por exemplo, quando você orienta quanto ao que comer?
Exatamente. Orientar às pessoas com quem seu filho fica para propor coisas diferentes, que não sejam só de televisão. E, quando estiverem assistindo, que seja um programa escolhido, e não um "porque eu não tenho mais nada para fazer". Tem que ter um objetivo.


Como ficam os pais acostumados a ligar a TV logo que chegam em casa? Ou os que adoram muito ver novela, jornal da noite...
Eu conheço, sim, pessoas que ligam a TV, sentam e assistem. Em geral, claro, tendem a ter filhos que assistem a muita TV. Tem que se educar e propor outras coisas. Na verdade, uma pessoa que vê televisão o tempo todo não está dando tanta atenção para o filho. Fica difícil educar assim. Pior quando só tem um aparelho em casa, passando algo para adultos... Não é bom para criança nenhuma.


Quando há algo impróprio, desliga?
É o caso de você se reeducar também. Pelo menos espere seu filho ir dormir e aí você assiste à vontade, com mais liberdade. Quando vai educar um filho, você não fica só comendo porcaria na frente dele, né?


E tem um jeito de fazer isso sem brigar com a criança todos os dias?
Claro! Você faz acordos com a criança. Não deve dizer ‘não, não vai ver tal coisa!’, mas, sim, ‘vai ver tal coisa? Então vamos ver juntos’. Ou peça para ela te contar. Ver por que ela gosta daquilo. Tudo o que for mediado pelos pais vai ser menos nocivo.


Existe uma dúvida dos pais: dá tempo de mudar crianças, de 5 ou 7 anos, que já estão mal-acostumadas?
A proposta do livro, inclusive, é que o próprio adulto se modifique. O importante é que a criança realmente esteja de acordo, que negocie com ela o que parece razoável para você, pai, e também seja satisfatório para ela.


O que moveu você a escrever o livro?
Eu tive pessoas que realmente estavam muito desorientadas. E tenho acesso a infor mações, eu estudo, faz parte do meu cotidiano. E falta discutir. A escola aborda pouco e poderia ter uma postura mais analítica, mais crítica.


Em relação à programação adulta que as crianças vêem (no livro você aponta a grande quantidade de crianças assistindo aos conhecidos como "horário nobre"), o que é pior? Violência?
Atualmente, o que tenho mais observado nas crianças está relacionado à notícia de jornal. Elas são sempre as vítimas: as seqüestradas, as mortas, as desaparecidas. E isso traz para a criança uma insegurança. Mesmo uma coisa como um acidente de avião na Coréia, por exemplo, e os pais vão pegar um avião amanhã. Nas notícias, não estão dizendo que cai um em tantos que não, que é mais fácil morrer num carro. E o jornalismo explora a violência de uma maneira indescritível: assisti a uma cena de um rapaz sendo espancado por outros. Eram seis da tarde, e as cenas se repetiram, se repetiram. É muito assustador. Imagine para a criança que se sente tão indefesa ainda, sem recursos.


Então, é melhor não deixar ver...
Depende da idade. Até uns 6 anos, é melhor que não tenha contato. A partir dos 7, é possível conversar.


O que você acha do fato de colocar bebês em frente à televisão, DVDs que prometem deixá-lo mais inteligente, ou de quando os pais optam por isso para dar conta de outras coisas na casa?
As crianças se interessam, se envolvem com o som, a mudança de imagem, com a percepção delas das coisas. Os bebês vêem TV mesmo, e é melhor que assistam a programas feitos para eles, que tenham um ritmo diferente, cores, que proponham até certa educação. O Cocoricó é um fenômeno interessante: feito para crianças de 3 a 6 anos, e os bebês amam! Eles não entendem a história, mas adoram os bonecos, as cores, as músicas.


A Sociedade Americana de Pediatria diz não à TV para os menores de 2 anos...
Eles dizem isso mesmo, que causa danos no desenvolvimento do cérebro. Mas não está comprovado, não deu tempo ainda disso.


Então, é o tempo de exposição que faz diferença?
Novamente, tem que oferecer alternativas para a criança. A TV não pode ser a única fonte de divertimento, prazer, informação.


E em relação a deixar mais inteligente?
Acho que depende de como usa a TV. O programa que propõe que ele diga ‘bola, bola, bola’ não vai fazer ele dizer. Mesmo que ele diga, não significa muita coisa. Por outro lado, certos programas como Dora ou As Pistas de Blue propõem charadas mais interativas, e ela não vai ficar mais inteligente. Ninguém fica mais inteligente porque vê TV.


No final do livro, você lista alguns programas que estão no ar, com sinopses e detalhes, mas preferiu não se posicionar contra ou a favor de programas?
Foi. A idéia é que os pais, a partir da leitura do livro, tenham visões próprias sobre os programas. Devem se sentir mais instrumentalizados para ter uma opinião e aí saber assistir a esse ou a outro programa que vier.


Qual é a dica principal quando os assuntos são TV e criança?
A dica é que os pais participem com os filhos nessa atividade de ver televisão. Precisam estar em contato com eles, saber o que estão fazendo e se posicionar.


Não é para ficar reclamando ‘ai, ele vê tanta TV’...
Se reclama assim, espero que o livro dê a ele condições de tomar atitudes práticas.

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