sexta-feira, 17 de julho de 2009

Ainda não viu?

Nada como um jovem pai para patrocinar um espetáculo infantil. Joaquim completou 4 anos em março; Benício tem um 1,7 meses. Durante uma viagem de férias em Londres, tendo de entreter as crianças, Luciano Huck entrou no teatro Polka para ver uma peça recomendada por um jornal local. Baseada em desenho infantil e composta por bonecos manipulados, a peça foi trazida ao Brasil pelo casal Angelica e Luciano Huck.

Era Charlie e Lola, inspirada nos premiados livros da inglesa Lauren Child e produzida pela BBC. Ainda por cima, a história tinha o apelo de ser exibida no Brasil pelo Discovery Kids. "Fiquei encantado com aquela experiência teatral tão lúdica. Então, comprei os direitos para trazer para o Brasil", conta Huck, diretamente de um zoológico em Buenos Aires, onde novamente distraía seus pequenos. "Também acho legal ter uma referência do dia-a-dia deles por poderem ver personagens que conhecem da TV."

Como não tinha experiência em teatro, Huck se associou à produtora Aventura, que criou um braço para produções infantis. Para a direção, convidou o responsável pela montagem original: Roman Stefanski. O inglês, então, desembarcou em São Paulo para selecionar o elenco e familiarizá-lo com os bonecos.

Um aspecto importante é que os bonecos foram criados como são no desenho: em 2D, daí as preocupações com a posição de cada uma das mãos e o movimento dos olhos dos fantoches. "É isso que dá vida à encenação. Não adianta chacoalhar os bonecos. Você tem de passar alma para eles", comenta Stefanski.

Na história, a pequena Lola, de 5 anos, tem de arrumar seu quarto, mas se distrai com monstros, confusões e um amigo que só existe na sua cabeça, chamado Soren Lorenson, que aparece em versão cinzenta para separá-lo do "mundo real". O paciente Charlie, o irmão de 7 anos, é escalado para garantir o cumprimento da tarefa. Como no desenho, nenhum adulto aparece em cena.

Há ainda um apuro no texto e na linguagem, mantendo inclusive os erros infantis. "Nem sempre a gente consegue manter a graça do jeito de Lola falar. Algumas coisas se perdem na tradução. Em compensação, a manipulação é universal", compara o diretor Stefanski. "A criança sempre te coloca com os pés de volta no chão. Mesmo no momento mais mágico da peça, ela pode se divertir enquanto disseca tudo o que está vendo no palco. É um público muito crítico", conta ele.

Charlie e Lola, a Peça custou R$ 1,5 milhão e vai cumprir temporada até novembro em São Paulo. Depois segue para o Rio. A experiência foi tão boa que Huck pensa em adquirir um teatro para abrigar os futuros espetáculos. No radar, está o desenho brasileiro Peixonauta, também do Discovery Kids, que estreou liderando o Ibope entre crianças de 4 a 11 anos.

As negociações ainda estão no começo. "Eu me animo por ser uma coisa 100% brasileira. Mas ainda estamos no zero, desenvolvendo o roteiro. Só depois vamos definir o formato." Vai ser mais uma franquia da telinha para os palcos.

Serviço

Charlie e Lola, Peça
Quando: até 1º de novembro; sábados e domingos, 11h e 16h
Onde: Teatro das Artes - Shopping Eldorado (Av. Rebouças, 3.970, Cerqueira César)
Tel. (11) 3034-0075
Quanto: R$ 50 (R$ 25 na meia-entrada)
Classificação: livre (recomendado para crianças de 3 a 9 anos)

* texto de lúcia valentim rodrigues, publicado originalmente no site da folha de s.paulo

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