sábado, 18 de dezembro de 2010

Cinema: Oceanos

Resultado de quatro anos de trabalho e de um uso exímio de novíssimas câmeras de alta definição, o documentário Oceanos, da dupla francesa de diretores Jacques Perrin e Jacques Cluzaud, revela-se uma viagem fascinante à complexidade da vida marinha do planeta, mostrando aspectos inusitados mesmo de espécies muito conhecidas, como golfinhos, baleias e pinguins. Realizadores do fascinante Migração Alada (2001), os diretores fazem pelos espécimes marinhos o mesmo que aquele trabalho fizera pelos pássaros. Ou seja, conseguem que os espectadores compartilhem o cotidiano dos animais, vivenciando os desafios e a beleza de sua existência.

Assim, é possível sentir-se ao lado dos golfinhos enquanto pulam sem parar da água, em trajetos longos pelo mar, em que disputam cardumes imensos com gaivotas e outras aves marinhas – aliás, o mergulho vertiginoso destes pássaros é um dos pontos altos do filme. Há sempre uma câmera postada, tanto dentro, quanto fora da água, para que o espectador visualize a façanha dos pássaros para conseguir sua comida. O que dá a medida da logística requerida para a realização do documentário, que explora as profundezas do mar com uma riqueza talvez nunca vista antes.

Há inúmeros espécimes exóticos de criaturas marinhas, caso do polvo Blanket Octopus – que abre uma membrana que parece um cobertor para defender-se de inimigos -, a lesma-do-mar Spanish Dancer e inúmeras águas-vivas luminosas. No caso de espécies conhecidas, como as baleias, o encanto do filme está em sua proximidade destes gigantescos animais, permitindo avaliar o tamanho de seu esforço para cruzar os mares em busca de alimento e a complexidade da relação entre mãe e filho. Da mesma forma, é assustador presenciar o encontro entre um solitário mergulhador e um enorme tubarão, que termina sem incidentes, apesar de o tubarão dar uma dentada na prancheta do pesquisador.

Sem pretender edulcorar demais a visão da vida selvagem, Oceanos mostra-se bastante realista ao focalizar o esforço cotidiano da sobrevivência e a necessidade de algumas devorarem as outras – caso dos pássaros que caçam as tartaruguinhas recém-nascidas de uma praia, das quais às vezes apenas uma consegue alcançar o mar e chegar à vida adulta. Da mesma forma, são impressionantes os ataques das orcas aos leões marinhos estacionados numa enseada.


O recado ecológico também é dado em expressivas visões da poluição marinha, da caça e pesca no mar (boa parte, material encenado, mas, mesmo assim, eloquente) e, especialmente, numa visita feita pelo diretor Perrin (que tem vasto currículo como ator, como em A Moça com a Valise e Cinema Paradiso) e seu neto a um museu de história natural que reúne esqueletos de espécies extintas. Toda a beleza reunida pelo filme revela-se, assim, como um lembrete da necessidade de que a espécie humana controle seus piores instintos e contribua mais e melhor para preservar esta magnífica diversidade que pulsa aqui bem perto de nós, na imensidão aquática da Terra.

Neusa Barbosa*

* a querida amiga neusa barbosa - que há tempos não encontro - é especialista em cinema, jornalista e pesquisadora. Atualmente edita e mantém o site cineweb, onde você pode encontrar outras estreias da semana e muita informação sobre a sétima arte

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