sexta-feira, 4 de julho de 2008

Cinema: Kung Fu Panda

Faz tempo que o cinema americano tem flertado com o – gigantesco – potencial de consumo do público chinês. Já faz 8 anos, por exemplo, que a Academia de Marketing... ou melhor, de Cinema de Hollywood premiou O Tigre e o Dragão com quatro Oscars. Já tem 10 anos que Hollywood "importou" pela primeira vez o ídolo chinês Jackie Chan. Sem falar em Jet Li. Nada é por acaso. Afinal, os executivos do cinema americano estão cansados de saber que conquistar o bilionário público chinês é condição mais do que necessária para a saudável manutenção de seus negócios.

Visando este mercado, nada mais lógico que produzir um desenho animado todo ambientado na China, enfocando os hábitos e a cultura do daquele país. Nasce assim Kung Fu Panda, (que estréia hoje, dia 4, nos cinemas) muito mais uma necessidade mercadológica que propriamente criativa e/ou artística. Mesmo porque ele (re)conta a mesma historinha que já vimos inúmeras vezes: um protagonista atrapalhado, hostilizado pela sua falta de talento específico, mas que consegue quebrar os preconceitos e se superar perante o grupo que o rodeia por meio de muito esforço e força de vontade.

Existem milhares de filmes com o mesmo mote, o mesmo roteirinho estilo Syd Field. O personagem-título, Po, é um péssimo garçom de um restaurante (claro) chinês, mas traz (bem) escondidos dentro de si talentos fortes o suficiente para salvar a sua vila do terrível vilão Tai Lung, um tigrão do Mal que recebeu um poderoso treinamento kung fu, mas que passou para o lado escuro da Força (oops, já vi esse filme). Porém, para que sua verdadeira Força aflore, ele terá de submeter aos rígidos ensinamentos do mestre Shifu, uma espécie de Yoda local.

Qual seria, então, o segredo deste Kung Fu Panda? Principalmente o ótimo humor e o carisma dos personagens. Todos os clichês do roteiro são facilmente superados pelo excelente ritmo de comédia, pela total simpatia dos protagonistas e até pela "química do elenco", mesmo em se tratando de um desenho animado. Os diálogos são afiados e inteligentes, a trama flui de forma rápida e agradável, com "timming" praticamente perfeito. Enfim, diversão garantida para toda a família, sem o perfeccionismo nem a técnica deslumbrante de uma Pixar Animation (o filme é da DreamWorks), mas mesmo assim livre, leve, solto e bastante engraçado. O que não é pouco.

(celso sabadin)

* O multimídia - e querido amigo - Celso Sabadin é autor do livro autor do livro Vocês Ainda Não Ouviram Nada – A Barulhenta História do Cinema Mudo e jornalista especializado em crítica cinematográfica desde 1980. Atualmente, dirige o Planeta Tela (um espaço cultural que promove cursos, palestras e mostras de cinema) e é crítico de cinema da TV Gazeta e da rádio Bandeirantes.

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