quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Criança & TV: Hora de dormir!

Ao chegar em casa, corre para checar os e-mails? Olhe ao redor da sua sala. Em que lugar está a TV? Mesmo que você não pare para assistir, o fato de deixá-la ligada cria familiaridade, praticamente a personifica, lhe dá vida própria. Mas você a-do-ra passar horas vendo seus programas favoritos? Para os especialistas, o ideal é que criança pequena nem deva estar ali (ou porque é tarde para estar acordada ou por causa do conteúdo impróprio). "Quem decide a programação é você, ainda que precise abrir mão da novela", afirma a psicanalista Mary Lise Moysés Silveira.

No caso das maiores, há um conselho de Bia Rosemberg, diretora de programas infantis (leia entrevista aqui). "O ideal é explicar para a criança os temas que são abordados no seu programa. Ou seja, se aparecer uma cena de apelo sexual, ajude-a a interpretar o contexto." Ainda assim, cenas violentas devem ser evitadas. "Uma criança que vê CSI, seriado que investiga crimes, fica impressionada com a aparência das coisas, como o sangue, expressões etc.", diz Lisa Guernsey, jornalista e autora do livro Into the Minds of Babes – How ScreenTime Affects Children from Birth to Age Five (Por Dentro da Mente dos Bebês – Como a TV Afeta Crianças de 0 a 5 Anos).

No caso da novela, as opiniões são extremas: existem especialistas totalmente contra e outros a favor, em partes. "Se existir a mediação do adulto, ou seja, se ele estiver presente para conversar sobre os assuntos da novela, ela pode ser uma ótima oportunidade para apresentar o mundo e discutir valores", afirma Cláudio Márcio Magalhães, pesquisador, jornalista e autor do livro Os Programas Infantis da TV – Teoria e Prática para Entender a Televisão Feita para as Crianças (Ed. Autêntica). Os pais que não estiverem prontos ou dispostos a dialogar sobre o tema devem mudar de canal. "Não precisa ter medo de ser taxado de conservador. Ainda que a criança se queixe, ela espera que você tome conta dela.

O que não pode acontecer é a censura. Antes de proibir, exponha seus motivos com uma conversa franca", diz Marcos Cezar de Freitas, professor de Pedagogia e pesquisador sobre Educação. Não use como desculpa a crença de que seu filho assiste a canais impróprios para a idade dele porque gosta. "Criança curte programa de criança, não jornal, novelas e seriados. Tanto é que os canais de maior audiência na TV a cabo são os infantis", afirma o pesquisador Cláudio Márcio.

Um bom critério na hora de optar por um programa é se perguntar: meu filho aprende alguma coisa com ele? O conteúdo do que seu filho assiste é tão importante quanto o tempo que fica diante dele ."A criança não é passiva. Durante o programa, ela atribui sentido às coisas e faz isso de acordo com suas capacidades cognitivas e de raciocínio", diz Claudemir. Uma prova disso é o programa LazyTown, exibido no canal Discovery Kids. "A criança é incentivada pelos personagens a se exercitar, e faz isso durante o episódio", afirma Magnus Scheving, criador e ator do programa. Se escolher o que ela vê e se certificar que é ideal para sua faixa etária, o aproveitamento será maior. Tenha em mente que o conteúdo educativo é qualquer coisa que faça seu filho pensar, estimule a fantasia, exercite o imaginário e diga respeito ao cotidiano dele. E isso varia de acordo com a criança.

Por exemplo, o Castelo Rá-Tim-Bum tem, sem sombra de dúvidas, grande potencial educativo. E não só pelo ratinho que incentiva o tomar banho, mas por apresentar também personagens contraditórios como o Nino, que pode ser doce com os amigos ou irritado quando algo não vai do jeito que ele quer. Não há maniqueísmo, ou seja, não há divisão entre o Bem e o Mal.

O programa da Xuxa, por exemplo, também abordava o mesmo conteúdo – higiene –, só que a forma é diferente. "Xuxa imagina a criança sentada em frente à TV, como na sala de aula, atenta às mensagens e suas atrações. É convidada a participar, mas só sob a orientação da ‘professora’ e sem sair de sua carteira. Já Castelo e Cocoricó imaginam seu telespectador não como em uma sala de aula tradicional, mas participante de um grupo de trabalho, de uma coletividade. Está atento não só às mensagens preestabelecidas, mas às conexões com suas experiências, com seu cotidiano e com sua fantasia", diz Cláudio Márcio Magalhães. Ou seja, escolher um programa de televisão com intenção educativa para o seu filho é quase como optar pelo projeto pedagógico de uma escola.

Qual faz sentido para você?

Até mesmos desenhos como Pica-Pau e Tom & Jerry são educativos, pois não apresentam personagens maniqueístas, ou seja, com os valores de bondade e maldade definidas. A criança se identifica com isso. "Em A Vaca e o Frango e Sorriso Metálico, a questão da nova família é retratada. O primeiro aborda o tema da adoção, enquanto que o segundo mostra uma garota que tem pais separados", afirma Magalhães. Os desenhos atuais retratam bem a rotina infantil, com informação por todos os lados. São histórias que misturam tecnologia, poucas falas, muita ação e uma moral. Se pararmos para pensar, são bem parecidos com os desenhos do Pica-Pau criados nos anos 40. Portanto, o melhor entretenimento para o seu filho é, na verdade, vários. "Existem diversos estilos de desenhos porque vivemos em muitas realidades diferentes. O melhor é diversificar a programação", diz o especialista.

Fato: a criança aprende muito mais quando está se divertindo. Saiba o papel da televisão e do computador nesse processo de aprendizagem. Atualmente, com a questão da segurança das ruas, garotos e garotas passam mais tempo dentro de casa do que brincando pela cidade. Resultado: a televisão e o computador são o entretenimento favorito. "A tecnologia não é responsável pelo casulo, mas o casulo faz o ato de ficar em casa mais suportável", diz a psicoterapeuta Lídia Aratangy.

Com isso, a ludicidade passou a ser desenvolvida no meio digital, ou seja, em vez de trocar a roupa de uma boneca, a menina vai ao site da Barbie e escolhe uma roupa direto do guarda-roupa da loirinha. Ela continua brincando, só mudou o modo. Não quer dizer que a infância acabou, e sim que precisamos lidar com ela de outra forma. "A escola deve tirar proveito dos meios de comunicação para misturar o mundo acadêmico com o da criança, deixando-o mais atrativo. Se continuarmos com esse preconceito em relação ao computador e à internet, o colégio sempre será o mais chato", diz Cláudio Márcio Magalhães. É por isso que alguns educadores defendem a idéia de uma disciplina sobre mídia na pedagogia. "Se o professor for capacitado para ensinar à criança como o conteúdo televisivo é feito, ela fica menos suscetível às influências", afirma a psicóloga Ester Cecília.

Atentas a essas transformações, algumas empresas já desenvolvem laptops e portais educativos para acompanhar livros e cadernos. É o caso do grupo educacional Positivo. "Nós capacitamos nossos professores para ensinar os alunos a usar bem a tecnologia", diz a coordenadora de Pesquisa Betina von Staa. A rede, em parceria com a marca CCE, criou o notebook Classmate, que em 2008 foi implantado no Colégio Visconde de Porto Seguro, em São Paulo. Eles também têm um portal confiável, que filtra a pesquisa dos alunos. Faz tanto sucesso que eles o acessam de casa cerca de 45 vezes por semana. No Colégio Magister, em São Paulo, em 2008, os alunos de 6ª e 7ª séries passaram a ter blogs próprios e a serem estimulados a escrever diariamente – nem precisa dizer que eles adoraram. Mas, ainda que a escola ensine seu filho a usar bem a tecnologia, o grande responsável pela educação dele é você.

* Texto de Cristiane Rogério e Tamara Foresti, publicado originalmente no site da revista Crescer

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