quarta-feira, 10 de junho de 2009

Criança & TV: Um exemplo a ser seguido

Em junho do ano passado, as crianças italianas que estavam assistindo aos desenhos animados no Nickelodeon ficaram surpresas. Sem o menor aviso, o canal parou a transmissão e lhes disse: "Vocês estão muito gordos e preguiçosos. Precisam de exercícios. Vamos sair do ar agora e vocês vão brincar no pátio". E foi o que aconteceu. O canal infantil saiu do ar. As crianças largaram sobre o sofá as bolachas, biscoitos e doces e foram brincar. Em vez da programação habitual, um cartaz justificava a medida tomada.

A cena parece surrealista, mas foi o que aconteceu, em meio às discussões cada vez mais frequentes sobre as horas que as crianças passam diante da televisão - média de duas por dia na Itália e quatro no Brasil. Mas televisão engorda? Os pesquisadores dizem que sim, pelo menos indiretamente. Quando estão na frente da telinha, elas costumam consumir guloseimas e deixam de fazer exercícios.

No caso da Itália, 15% dessas crianças não praticam nenhum esporte e 25% se enchem de bolachas e biscoitos diante da televisão. Resultado: 36% dos italianos entre 5 e 17 anos estão com peso acima do normal, conforme dados do instituto de pesquisa SWG. A Nickelodeon pegou a bola quicando e chutou, com essa idéia de suspensão da programação e um cartaz mandando as crianças brincarem enquanto o canal estivesse fora do ar. E está fazendo o mesmo em países. Quer dizer, pelo menos naqueles em que existe uma maior consciência da população, em que pais e educadores discutem mais abertamente a televisão enquanto programas oferecidos às crianças, mas também enquanto um ritual diário que influencia outras atividades.

E a Nickelodeon tem um alcance mundial, atingindo 300 milhões de lares em todo o mundo. Os dirigentes do canal sabem que vão perder milhares de dólares de publicidade. Mas não ignoram que a melhora de sua imagem dentro da sociedade vai atrair investimentos publicitários. Ao lado desse “play day”, a televisão italiana começa a exibir uma série de spots sobre estilo de vida, aconselhando o público infantil sobre o que comer, a fim de combater a junk food.

É isso o que explica Massimo Bruno, um dos editores italianos do canal. A medida tomada pelo Nickelodeon foi considerada simpática, encontrou apoio na imprensa e, indiretamente, levou pais e educadores a se questionarem mais seriamente sobre as relações entre a TV e seus filhos. "Não me considero dentro da categoria de pais que dão pouca atenção a esse tema. Procuro passar o dia com meus filhos e, é claro, minha casa é uma bagunça, com papéis pelo chão, livros, tinta e tesouras espalhados pelos cantos. Quero que o mundo de meus filhos seja semelhante ao de seus pais. Escutamos música, fazemos comida juntos e também olhamos juntos a televisão", disse Ambra Angiolini, que tem dois filhos, um de 4 e outro de 2 anos, ao jornal Republica sobre o assunto.

Está certo que nem todo mundo tem esse tempo disponível, principalmente quando os pais trabalham. Mesmo assim, a medida da Nickelodeon abre uma janela para as discussões entre pais, filhos e televisão.

* texto do jornalista e escritor sérgio capparelli, publicado originalmente em seu blog

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom o texto do Capparelli, além de muitos outros que estão no site dele. Fiz uma postagem no Blog Pensando Imagem e Som citando esse texto e fiz referência também ao Mundo Encantado, pelo qual o encontrei. Espero que você não sei importe, Shirley.

Há braços

shirley paradizo disse...

sem problemas... estamos aqui na blogosfera exatamente para isso: trocar informações e nos mantermos informados...

bjos
shirley