quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Cinema: Enrolados

A aquisição da Pixar Animation com a manutenção de seus principais executivos (leia-se John Lasseter) em cargos de chefia tem feito muito bem à Disney. O mais recente desenho animado dos famosos estúdios criadores de Mickey Mouse – Enrolados – consegue aliar a magia e o romantismo que sempre caracterizaram a grife Disney, com o bom humor e a deliciosa gaiatice típicas da Pixar. O resultado é um dos melhores desenhos da empresa nos últimos anos.

Sim, Enrolados é sobre uma princesa e sua madrasta malvada. Mas sem aquele tom melodramático de Branca de Neve, Cinderela e outras princesas que até hoje vendem zilhões de dólares em licenciamento. Aqui, temos uma releitura bem humorada do conto Rapunzel, dos Irmãos Grimm, aquele do famoso “jogue-me suas tranças”. Uma Rapunzel que não será salva por um príncipe exatamente encantado, mas pelo aventureiro Flynn Rider (dublado por Luciano Huck nas cópias em português, o que não compromete), um vigarista de bom coração que lembra tanto Aladin como a dupla Túlio e Miguel do desenho O Caminho para Eldorado (que por sinal é da DreamWorks).

Puxando pela memória, Enrolados e Caminho para Eldorado também têm um importante personagem personificado por um cavalo que são bastante parecidos. Isso sem falar que esta nova Rapunzel cheia de atitude parece parente próxima de Fiona. Sem problemas. Esse tipo de influência artística é muito comum no mercado de desenhos animados de longa-metragem, em que os melhores técnicos e artistas costumam constantemente trocar experiências – e empregos. O importante é ressaltar o equilíbrio obtido por Enrolados.

Humor, aventura, personagens fortes e carismáticos, ação, romance, tudo na medida certa para agradar a toda a família. Com direito a pelo menos uma cena que já pode ser considerada antológica: a da soltura das lanternas, enquanto os protagonistas fazem um passeio de barco. Um momento de grande inspiração e que – ufa, finalmente - justifica o preço do ingresso em 3D. Falando em 3D, o desenho tem ainda o cuidado de unir as mais modernas técnicas de animação tridimensional com o traço conservador que o público se acostumou a ver nas produções estilo contos de fada.

Com ótimos resultados, já que Enrolados mantém o sabor clássico da Disney, ao mesmo tempo em que se moderniza para se adequar às novas gerações. Vale lembrar que o tal “sabor clássico” é reforçado pela trilha sonora sempre um pouco over e meio Broadway de Alan Merken, o mesmo de a Bela e a Fera, A Pequena Sereia e tantos outros. Só não compreendi por que o protagonista é tão parecido com o ator Adrien Brody, inclusive com o roteiro trazendo várias piadas sobre o nariz dele. Estaria ele cotado para o papel, em algum momento da pré-produção? Uma curiosidade: Glen Keane, diretor de animação de Enrolados, disse que o visual básico do desenho foi inspirado no quadro O Balanço, do pintor francês Jean Honoré Fragonard. Vale dar um Google Images.

celso sabadin*

* O multimídia - e querido amigo - Celso Sabadin é autor do livro autor do livro Vocês Ainda Não Ouviram Nada – A Barulhenta História do Cinema Mudo e jornalista especializado em crítica cinematográfica desde 1980. Atualmente, dirige o Planeta Tela (um espaço cultural que promove cursos, palestras e mostras de cinema) e é crítico de cinema da TV Gazeta e da rádio Bandeirantes.

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