sexta-feira, 13 de março de 2009

Cinema: Tô de Férias

Normalmente, o título de um filme deveria estar relacionado à sua própria trama. Na versão original, Tô de Férias se chama A Ilha de Impy, o que faz bastante sentido. Temos logo de cara nesta animação, portanto, um grande problema de adaptação já começando pelo título, já que não tem nenhum personagem de férias, o que justificaria algo. O filme muito menos chega aos cinemas brasileiros nas férias, mas com um atraso de três anos após seu lançamento em sua terra natal, Alemanha.

Tô de Férias é uma animação digital alemã, país com pouca tradição na produção do gênero, codirigida por Holger Tappe, que fez em 2004 A Terra Encantada de Gaya, outra animação que chegou a ser exibida no circuito comercial brasileiro. Reinhard Klooss também assina a direção, mas seu nome é menos conhecido por aqui, sendo que sua última experiência como diretor foi em uma comédia, em 1992.

A produção, voltada estritamente para o público infantil (o que vale praticamente como um alerta aos adultos que fazem questão de conferir qualquer animação lançada por aqui), começa na era pré-histórica, quando acompanhamos um recorte da cadeia alimentar, conduzido por um pernilongo, que exerce no roteiro a mesma função do esquilo de A Era do Gelo, mas não é tão bem aproveitado quanto no animado americano. Ele é congelado para ser despertado algumas centenas de anos depois, assim como um misterioso ovo. Ambos sobrevivem congelados num iceberg e acordam no reino de Pumpulônia, comandado por um rei decadente que tem obsessão pela caça de espécies raras de animais.

Mas não é o tal do pernilongo protagonista de Tô de Férias, mas o animal que está no ovo. Aportando numa ilha tropical onde animais e humanos convivem harmoniosamente, o animal que eclode do ovo é identificado pelo professor Habakuk Tibatong, líder da turma de bichos e humanos que vivem na ilha, como um implogossauro, elo perdido entre os dinossauros e mamíferos. Impy, como é chamado, é logo adotado pela turminha e acaba ficando sob a mira do rei caçador, que não vê a hora de colocar Impy no seu zoológico particular ou mesmo na parede de seu quarto, ornada por cabeças de exóticos animais que já caçou.

A qualidade da animação de Tô de Férias não é das piores. As cores são boas e os cenários bem construídos, mas falta uma mobilidade mais real à movimentação dos personagens, humanos ou não. A comparação com filmes de estúdios como Pixar, DreamWorks e a própria Blue Sky, responsável pelos três longas A Era do Gelo, é inevitável. Porém, vale lembrar que, como representante de uma cinematografia com pouca tradição no gênero, esta animação não faz feio em termos estéticos. Agora, o roteiro é sofrível.

Repleto de clichês, situações e piadas sem graça e repetitivas, Tô de Férias não faz muito além de entediar. E não vale dizer que é uma animação voltada para o público infantil, uma vez que nivelar por baixo os espectadores mais jovens não funciona, pelo contrário. E, encerrando a sequência de lugares comuns, a música We Are Family encerra a animação, exaltando esse sentido de família que une os personagens de diferentes espécies exaltam na ilha de Impy.

Tô de Férias, filme de 2006 que tem uma continuação lançada ano passado, ganhou o prêmio do público no Gijón International Film Festival, realizado na Espanha e com produções voltadas ao público juvenil. Uma curiosidade é que, no mesmo ano, foram premiados pelo júri filmes como Shortbus e Fora do Jogo.

(angélica bito*)

* a amiga jornalista angélica bito - de quem aprecio muito o trabalho - escreve para o site cineclick (um endereço bacana que traz críticas e informações sobre o universo cinematográfico)

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