terça-feira, 31 de março de 2009

Estante: Hancock

Nem todo super-herói do cinema nasceu nas histórias em quadrinhos. O mais recente deles, Hancock (R$ 29,90, Sony Pictures, versão estendida), é uma criação original para a telona, assinada pelos roteiristas Vincent Ngo e Vince Gilligan, nomes experientes em seriados de TV. E quem seria, afinal, este Hancock? Quais os seus superpoderes e os seus segredos? Vivido por Will Smith, Hancock é tão forte, indestrutível e voador quanto o Super-Homem. Pelo menos neste primeiro filme, nada se percebe em relação à visão de raio laser, sopro congelante ou coisas do gênero.

O que realmente chama a atenção é que se trata de um super-herói marginal, outsider, alcoólatra, sem uniforme e odiado pela população. Sim, ele só pratica o bem, mas não hesita em destruir viadutos e edifícios para impedir um roubo ou descarrilhar um trem inteiro para salvar uma única pessoa. Nos tempos atuais, Hancock é um super-herói que não interessa a ninguém, pois a relação custo/ benefício não é apropriada.

É neste contexto que Ray (Jason Bateman), um profissional de relações públicas - meio fracassado, meio sonhador -, vê na figura de Hancock uma grande oportunidade de marketing. E vai tentar fazer dele um super-herói "dentro dos padrões". Hancock deve ser visto como uma fábula.

Não espere muitas explicações racionais nem tramas mirabolantes que justifiquem os personagens. É embarcar na brincadeira ou não. Quem se dispuser a entrar na magia certamente vai se divertir com as referências ao universo dos super-heróis. Como o fato de Hancock ser tão marginal que vive em Los Angeles e não em Nova York, como os poderosos mais "certinhos", acirrando ainda mais a rivalidade entre as duas cidades. Fora a questão do "obrigatório" uniforme do herói.

Como é cada vez mais difícil encontrar no cinema idéias totalmente novas e originais, é inevitável e compreensível que o filme traga também referências a outras obras, como O Feitiço de Áquila (os amantes que carregam uma maldição que os impedem de ficar juntos) ou mesmo Os Incríveis (super-heróis obrigados a viver como pessoas normais, escondendo seus poderes). Nada que tire o encanto do bom roteiro. O diretor Peter Berg (do recente O Reino) tem o mérito de transitar por diferentes gêneros sem perder o pique do filme.

Hancock é ao mesmo tempo uma aventura de ação, uma comédia e até mesmo um romance, sem abrir mão de sua identidade de "filme de super-herói". Os fãs de efeitos especiais também não terão do que reclamar, já que a produção, orçada em polpudos US$ 150 milhões, é bastante generosa e eficiente neste aspecto. É vestir a capa e deixar a imaginação voar.

Indicação: a partir de 12 anos

Extras: Superhumanos: o making of de Hancock; Visualizando o futuro; Construindo um herói melhor; Machucados e raspões; Meros Mortais: Por trás das câmeras com "Dirty Pete"; Trailers (sem legendas)

(celso sabadin*)

* o multimídia - e querido amigo - celso sabadin é autor do livro autor do livro vocês ainda não ouviram nada – a barulhenta história do cinema mudo e jornalista especializado em crítica cinematográfica desde 1980. Atualmente, dirige o planeta tela (um espaço cultural que promove cursos, palestras e mostras de cinema) e é crítico de cinema da TV gazeta e da rádio bandeirantes.

Um comentário:

Thiago Rodrigues disse...

Minha relação com esse filme foi de ódio e em seguida amor. Durante o tempo que esteve em cartaz, Batman e o Cavaleiro das Treves estreiou e eu fui assistir. Mais atrasado como sempre, cheguei tarde demais e já havia esgotado os ingresso para Batman. Resultado é que fui ver Hancock reclamando de tudo. Resumindo, foi uma boa surpresa, por que me deparei com um filme bem estruturado, com drama e comédia na medida certa. Esse DVD entará na minha lista de compras com certeza!